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(28/06/2012)
SESSÃO TEMÁTICA
INQUISIÇÃO E OS CRIMES CONTRA A FÉ, A MORAL E OS COSTUMES
Coordenação: Kamilla Dantas Matias
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Joana d'Arc e a Inquisição no cinema:
o exemplo de La Passion de Jeanne d’Arc, de Carl Theodor Dreyer (1928)
Meiriane Santos Oliveira Andrade
Graduada em História pela UESB
meireandrade6@yahoo.com.br
A representação do passado por meio de imagens ganhou corpo ao longo do último século, especialmente com a invenção e difusão do uso do cinematógrafo. Filmes votados à reconstrução de fatos e personagens históricos são uma constante desde a invenção do cinema e a sua utilização como base de pesquisa tem sido objeto de profícuos debates entre historiadores culturais. Mais recentemente, a par dos debates sobre cultura e representações encetados pelos historiadores culturais, o filme tem sido tomado como representação social da realidade para o qual concorrem os condicionantes sociais, o gênio criador dos indivíduos envolvidos no processo de produção e as limitações de gênero e estilo correntes. Nesta perspectiva, o presente trabalho almeja apresentar uma reflexão sobre representações da inquisição medieval e de Joana d´Arc no filme La Passion de Jeanne d’Arc, de Carl Theodor Dreyer, de 1928. A heroína francesa, sentenciada à morte na fogueira em 1431, pelo tribunal inquisitorial inglês foi interpretada pela atriz Renée Falconetti e, para a reconstrução da trama e da personagem, Dreyer tomou como fonte as atas do julgamento de Joana.
Palavras-chave: Cinema; Representações; Joana d´Arc; Inquisição.
Clérigos Sodomitas aos olhos do Santo Ofício na Bahia Seiscentista
Julio Cesar Borges de Oliveira
Especialista em História: Política, Cultura e Sociedade (UESB)
jcboliv@hotmail.com
No Brasil não houvera a instalação de um Tribunal do Santo Ofício, mas isso não significa que este não agira sobre essas terras, atuando por meio de visitações, passando a uma progressão estrutural de funcionários á serviço deste Tribunal a partir da segunda metade de século XVII e consolidando-se século posterior. Sob a desinência da escuta de denúncias, confissões e rumores sobre os “crimes” de interesse do Santo Ofício (associados á heresias) eram então julgados por tal Tribunal com sede em Portugal, mais precisamente em Lisboa (mantenedora da jurisdição sobre o Brasil) – local onde se encontra inúmeros documentos acessíveis á pesquisa de maneira a revelar dados para comprovação científica. Nas visitações, os inquisidores portugueses enviados á Colônia para investigar crimes heréticos estendiam-se por várias partes do território, dentre ales a Bahia. Tidos como exemplo moral, os religiosos, como corpo atuante no quadro inquisitorial, sabedor das ações e reações do Tribunal, praticava, também seus desvios de conduta, sendo punidos de forma mais amena e especial com o intuito de não expor a Igreja e/ou retirar desta sua autoridade corretiva. Baseado nos fatos ora citados pretendo apresentar nesta comunicação a relação entre os religiosos e seus crimes de sodomia perante os olhos punitivos do Tribunal Inquisitorial, no século XVII com especificidade na Bahia.
Palavras-chave: Santo Ofício; Sodomia; Bahia Colonial.
Mulher ideal X mulher real:
bigamia, adultério e concubinato na documentação eclesiástica e inquisitorial
Daniela Pinheiro Lessa Alves
Graduada em História pela UESB
daniela.lessah@hotmail.com
O presente estudo tem por objetivo analisar a condição feminina no âmbito da sociedade colonial, mais especificamente a Bahia do século XVIII. Através o estudoe crimes como concubinato, adultério e bigamia, praticados por mulheres, pretende-se fazer uma análise da imagem que se divulgava das que não se “adequavam” ao discurso católico, sendo desqualificadas entre as demais, vivendo um tormento particular nas malhas da inquisição. Para tal, é importante destacar a conivência entre a Igreja Católica e o Estado Português, no intuito de instaurar uma sociedade ideal na colônia, evitando prejuízos de ordem moral e financeira para a metrópole e sustentando a centralização do poder. As pecadoras e suas práticas, consideradas heréticas pela Igreja, que envolviam o comportamento social e sexual, iam do curandeirismo, judaísmo, adultério, concubinato, e qualquer outra que desafiasse o dogma católico, em plena Contra-Reforma.
Palavras-chave: Inquisição; documentação eclesiástica; Sociedade colonial.
Frei Luís de Nazaré:
em meio às práticas de solicitação, exorcismo e feitiçaria
em meio às práticas de solicitação, exorcismo e feitiçaria
Dilvania Gomes Moura
Especialista em História: Política, Cultura e Sociedade (UESB)
dilvania_gomes@hotmail.com
Os processos apurados pela Inquisição de Lisboa registram os fatos narrados, confessados e testemunhados. Entre eles encontra-se o processo de Frei Luís de Nazaré, um religioso carmelita, residente na Bahia, bastante procurado por ser exorcista. Acontece que, quando uma de suas tarefas era a de afastar influências malignas, ele se aproveitava e abusava sexualmente de mulheres, com a desculpa de ser aquilo, parte do ritual de exorcismo. Recomendava visita aos calunduzeiros e também praticava atos supersticiosos, igualmente classificados de simpatias e feitiçaria. Os depoimentos que levou Frei Luis de Nazaré a condição de réu do Santo Ofício português trazem a perspectiva do cotidiano colonial, povoado por estas práticas. O objetivo desta pesquisa, portanto, é relatar alguns crimes da alçada inquisitorial através do referido processo, ocorrido entre 1738 a 1741. As acusações que constam nos autos eram de crimes de solicitação, feitiçaria e abuso do exorcismo.
Palavras-chave: Inquisição portuguesa; Práticas mágicas; Cotidiano colonial.
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(29/06/2012)
SESSÃO TEMÁTICA
INQUISIÇÃO PORTUGUESA NA BAHIA:
ENTRE AS VISITAÇÕES E AGENTES INQUISITORIAIS
Coordenação: José Pacheco dos Santos Júnior
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Delitos contra o Santíssimo Sacramento da Eucaristia durante as visitações do Santo Ofício à Bahia e ao Recôncavo
(1591-1592/1618-1620)
(1591-1592/1618-1620)
Rômulo dos Santos Chaves
Especialista em História: Política, Cultura e Sociedade (UESB)
romulouesb@hotmail.com
Esta pesquisa destina-se a inventariar a partir das fontes produzidas pelo Santo Ofício de Lisboa, nos períodos de visitação à Bahia, ocorridos entre os séculos XVI e XVII, os delitos cometidos contra o “Santíssimo Sacramento da Eucaristia” ou a ele associados, relacionando-os a aspectos da vida cotidiana dos colonos tendo como contraponto a atuação da inquisição em relação a tais delitos à luz das determinações oficiais da Igreja no que se refere ao dito sacramento.
Palavras-chave: Visitações inquisitoriais; Bahia colonial; Santíssimo Sacramento
A Segunda Visitação do Santo Ofício da Inquisição à Bahia:
perseguição às práticas judaicas
Larissa dos Santos Chaves Borges
Especialista em História: Política, Cultura e Sociedade (UESB)
A pesquisa a ser desenvolvida compreende o período que vai de 1618 à 1620, na Bahia, capitania-sede do governo geral do Brasil, durante a vigência da União Ibérica (1580-1640). Tal recorte espaço-temporal justifica-se pelo fato de estarmos tratando de uma visitação, pois, no Brasil nunca foi instituído um Tribunal do Santo Ofício da Inquisição. Após a chegada do visitador, Heitor Furtado de Mendonça, em 1591, inauguram-se as visitações inquisitoriais no Brasil e, posteriormente, dando seqüencia, com a segunda visitação, dirigida pelo inquisidor e visitador Marcos Teixeira, em 1618. Ao analisar o livro das denunciações, nota-se que os alvos principais das perseguições ainda eram os judeus convertidos, pois, a maior parte dos denunciados e sentenciados eram cristãos novos. Procuraremos identificar quais fatores levaram a continuação e intensificação dessas perseguições aos cristãos-novos suspeitos de serem rejudaizantes durante a segunda visitação do Santo Ofício à Bahia. Tentaremos traçar o perfil dos acusados de criptojudaísmo, de acordo com o estereotipo criado pela Inquisição dando uma atenção específica aos casos de indivíduos que já teriam passado pelo Santo Ofício durante a primeira visitação e retornado a mesa inquisitorial na segunda visitação, como é o caso de algumas famílias citadas no livro das confissões da Bahia do século XVI, e também estão presentes no livro das denunciações da segunda visitação, a saber, os Antunes, Rodrigues, Alcoforado, entre outros.
Palavras-chave: Bahia quinhentista; Práticas judaicas; Inquisição Portuguesa.
A Familiatura do Santo Ofício no sertão da Bahia:
a trajetória de Miguel Lourenço de Almeida – século XVIII
Priscila Machado da Silva
Graduada em História pela UESB
pricilamachado.silva@gmail.com
O Tribunal do Santo Ofício, instituição que durante aproximadamente três séculos de existência estabeleceu rígida posição no mundo cristão, caracterizou-se pela prática incansável de perseguição as heresias e pela bem estruturada rede de funcionários. O presente trabalho tem por objetivo tecer uma análise sobre os Familiares do Santo Ofício no universo da colônia, a partir da trajetória do Familiar Miguel Lourenço de Almeida, nascido em Portugal e que durante o século XVIII encontrava-se no sertão da Bahia vivendo como homem de negócio.
Palavras-chave: Inquisição Portuguesa; Familiares do Santo Ofício; Miguel Lourenço de Almeida.
O sangue infecto e uma nova genealogia para purificá-lo
Marcília Meira Nogueira
Especialista em História: Política, Cultura e Sociedade (UESB)
mn-araujo@uol.com.br
O aumento das perseguições aos judeus na Espanha, no início da época moderna, fruto da política perpetrada pelos Reis Católicos e endossada pela sociedade cristã, acarretou conversões compulsórias e impulsionou a saída maciça de judeus do reino espanhol para outros considerados mais tolerantes. Tanto os judeus, quanto os neoconversos, chamados de cristãos-novos, carregavam consigo a infâmia por possuírem o sangue infecto, defeito fabricado, mas que se cristalizou no imaginário da época, já prodigioso em produzir mitos e lendas, e foi largamente legitimado pela elite cristã-velha, orgulhosa de possuir um passado valoroso e de sangue limpo. Ao grupo dos infectos, restava como alternativa escamotear a sua condição, para, assim, ser aceito e ascender socialmente. Muitas vezes, a saída viável para esse grupo seria “encomendar” uma nova genealogia, entroncar sua ancestralidade numa árvore sem máculas, inventar novos troncos de hereditariedade ou se filiar em outro de reputada e limpa ascendência, promovendo, dessa maneira, uma verdadeira “hemodiálise”. Expurgando a descendência impura e se apropriando de outra que lhe pudesse promover ou lhe livrar de perseguições inquisitoriais.
Palavras-chave: judeus, cristãos-novos, degradação do convívio, sangue infecto, genealogia.